ESPECIAL
Novos clássicos
27.04.2014
Criado em 2006, o projeto Briançon Tempo de Brasil possibilita que jovens instrumentistas cearenses tenham experiências na arte musical por meio de bolsas de estudos na França
Desde criança, Diego Coutinho se interessava pela música ao ver o pai, Carlos Alberto, acompanhando com o violoncelo a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Os primeiros toques aconteceram aos 11 anos, movidos pela curiosidade. "Sempre tive a vontade de estudar o instrumento, mas meu pai viajava muito e não tinha tempo para me ensinar. Só comecei a me dedicar com mais seriedade aos 13 anos", conta.
Hoje, aos 28, Diego se encontra na Europa, concluindo um mestrado no Conservatoire Royal de Bruxelles, na Bélgica. A chance de prolongar a estada no velho continente veio no período em que integrou o Briançon, Tempo de Brasil. O projeto possibilita que jovens instrumentistas cearenses tenham experiências na arte musical, por meio de bolsas de estudos no Conservatório de Briançon, no sudeste da França.
Antes da viagem o músico ainda precisou superar o desafio pessoal da autoconfiança para pleitear a bolsa de estudos no projeto. "Comecei a tocar na orquestra junto ao meu pai e fiquei sabendo dos testes por meio de colegas. Só fiz a inscrição no último dia, por achar que não tinha competência suficiente para passar, mas consegui", relata Diego, que participou da primeira turma do Briançon, Tempo de Brasil, em 2006.
Na França, conheceu o professor de violoncelo Claude Zanotti, que lhe ofereceu um curso de dois anos. Ao concluir os estudos, Diego recebeu a Medalha de Ouro do Conservatório Francês, patente concedida por um júri especializado. Ainda neste ano, ele pretende retornar para o Brasil. Após a experiência no exterior, a meta do músico é abrir uma escola de artes no Ceará, envolvendo, além da música, teatro, dança e artes plásticas.
"A Associação de Arte Sabiá será um espaço voltado para que crianças carentes tenham acesso às artes. Já consegui o apoio de um mecenas, que ofereceu uma casa em Caucaia, onde a escola funcionará. No Ceará, temos artistas em potencial, mas falta a eles oportunidades", conta Diego.
Conhecimento
Mas, a exemplo do que ocorreu com o próprio Diego, há exceções. Ítalo Rafael Nogueira, de 22 anos, foi outro contemplado pelo Briançon. Na adolescência, ele ainda não entrevia a possibilidade de seguir carreira na música clássica. Em 2005, com a inauguração da Escola de Música Erudita, em Iguatu, onde nasceu, decidiu tocar violoncelo. Sequer conhecia direito o instrumento. "Fiz o teste de aptidão aos 13 anos. Não sabia de nada, mas acabei passando na prova. Queria fazer aulas de violão, porém só ofereceriam clássicos. Pela semelhança do nome, optei pelo violoncelo".
Aos 18 anos, Ítalo Rafael tinha a certeza de que queria se tornar um músico profissional. Foi quando conseguiu a vaga no Briançon. "Não tive problemas para me adaptar à região. Não conhecia a língua, mas morava com uma família que me dava esse suporte. Meus primeiros meses foram me reeducando em relação ao instrumento, aprendendo as técnicas corretas. Os dez meses que passei na França me ajudaram muito a conseguir entrar para a faculdade, ao voltar para o Brasil".
Ítalo diz que a experiência na Europa foi importante na sua formação, pois antes de realizar a viagem, existiam poucos profissionais especializados em violoncelo no Ceará. A intenção era tornar-se um músico renomado no instrumento, mas a dedicação dos professores franceses, no entanto, o fez perceber uma outra maneira de difundir a arte clássica: "Voltei com o pensamento proposto pelo projeto, que é disseminar no Brasil o conhecimento adquirido. Passei dois anos dando aulas em Iguatu até ingressar no curso de Música da Universidade Federal da Paraíba. Pretendo fazer mestrado nos Estados Unidos e me dedicar de vez ao magistério".
Experiência fantástica
A trajetória de Robson Lima na França, 30 anos, foi diferente das dos colegas. Trompista desde os 11, ele se formou no curso de Música da Universidade Estadual do Ceará e desejava se aprimorar no exterior. A bolsa de estudos em Briançon, até então, era destinada apenas a estudantes de até 21 anos.
Em 2011, surgiu uma nova categoria do projeto, que permitia a candidatura de pessoas que já trabalhassem em projetos voltados à música e tivessem até 28 anos. E ele se encaixava em ambas as situações. "Conheci grandes professores e músicos, vi grandes concertos e visitei as melhores salas do mundo. Foi uma experiência fantástica".
Pouco tempo depois de chegar a Briançon, Robson foi convidado para ser regente auxiliar da banda sinfônica da cidade, um dos momentos mais marcantes na sua vida. "Sempre tive interesse em ser regente. Quando estava perto de voltar para o Brasil, tive a chance de organizar um concerto inteiro. Escolhi um repertório só de músicas brasileiras e foi emocionante realizar aquele recital para o público francês".
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