quinta-feira, 27 de junho de 2013

ALCOOLISMO

Orientações e debates marcam 45 anos do AA

27.06.2013
Considerado uma dependência primária, o álcool é a drogadição mais disseminada em todo o mundo

José, 69, sentiu na pele os efeitos do consumo exagerado de bebida alcoólica. Dependente, chegou a morar na rua quando jovem, passou fome, pediu esmola e usou outras drogas. Hoje, ele comemora a nova vida em uma data especial, os 45 anos dos Alcoólicos Anônimos (AA) no Ceará. Para celebrar a data, dois eventos visam à conscientização da sociedade sobre o problema. Um deles acontece hoje, um seminário para profissionais não alcoólicos, no Oásis Atlântico Hotel, na Avenida Beira-Mar. No sábado e domingo, no Colégio 7 de Setembro, na Avenida Imperador, Centro, ocorre o XII Encontro Estadual de Alcoólicos Anônimos no Ceará.

Ao todo, 200 profissionais não alcoólicos da área de Saúde e Justiça, que lidam com a problemática, participam do evento de hoje, um fórum, que ocorre das 9h às 13h, no Oásis Atlântico Hotel, na Avenida Beira-Mar Foto: Waleska Santiago

Ao todo, 200 profissionais não alcoólicos da área de Saúde e Justiça, que lidam com a problemática, participam do evento de hoje, um fórum de debates que ocorre das 9h às 13h. Com o tema "Alcoolismo e o Programa de Recuperação de AA", o evento contará com palestra da psicóloga Sandra Lúcia Oliveira Rodrigues da Silva, presidente da Junta Nacional de Alcoólicos do Brasil (Junaab), do médico psiquiatra Paulo Eduardo Garcia Picanço, da juíza de Direito do Juizado da violência doméstica e familiar contra a mulher, Rosa Mendonça, e a participação de alcoólicos e não alcoólicos que prestam serviços voluntários à Irmandade.

Palestras

Já o evento do fim de semana ocorrerá de 14h às 21h, no sábado, e de 8h30 ao meio-dia do domingo, contanto com palestras, discussões e exposição de histórias de integrantes dos grupos. "Às 19h30, teremos nosso ponto alto, a reunião de informação ao público, quando profissionais da área de Justiça estarão falando sobre a problemática do alcoolismo", ressalta o coordenador do evento.

Segundo explica, o Ceará conta, hoje, com 450 grupos de AA, sendo cerca de 50% deles localizados em Fortaleza e na região metropolitana, reunindo em torno de 10 mil integrantes em todo o Estado. Sobre a cura, ele diz não existir, destacando a importância do alcoólico sempre permanecer em contato com o grupo. "Não consideramos que exista uma recuperação plena. Adotamos um plano de 24 horas, um dia de cada vez, e interpretamos como uma doença progressiva e irreversível, com consequências de loucura e até morte", explica.

É nesse plano que vivem milhares de pessoas no País, inclusive José, que teve o primeiro contato com a bebida aos 15 anos, na cidade de Teresina. Ainda menor de idade, mudou-se para Fortaleza em virtude de um emprego, assumindo a condição de gerente aos 18 anos. A boa condição, no entanto, durou pouco. "Aos 19 anos, já não tinha emprego e morava na porta da Igreja da Sé, onde fiquei por três anos mendigando", relata.

Bem mais tarde, conta, começou a experimentar outras drogas, e em 1974, após diversos convites - e já casado e com um filho pequeno - resolveu conhecer um dos grupos de ajuda. A partir daí é que sua vida começou, já que, até então, nem documentos possuía. "Tirei certidão, carteira de identidade, comecei a estudar, me formei em contábeis, trabalhei e hoje estou aposentado", lembra. A retomada de vida, considera ele, foi graças ao AA. José completou, em 2013, 39 anos de sobriedade. "Isso graças a minha programação de AA. Se quer ser feliz, se quiser ser útil, fica no programa, foi isso que disseram meus padrinhos quando cheguei, e é isso que eu passo adiante. Eu vou diariamente ao Programa porque sei que necessito dessa convivência. Até hoje me emociono com a experiência dos outros", acrescentou.

Droga
A presidente da Junaab, Sandra Lúcia, cita o alcoolismo como uma dependência primária, e entre as drogadições, é a mais disseminada no mundo inteiro. Se o indivíduo não consegue interromper o uso, completa, também não consegue evitar o uso de outras drogas. "É uma doença crônica, progressiva e incurável, que afeta todo o equilíbrio da família", esclarece.

A psicóloga destaca a importância do acompanhamento para a mudança de vida do dependente, não apenas física, mas emocional. "Ela passa a viver com honestidade, volta a ter esperança na vida, é corajosa em expor seus defeitos, faz reparação de danos a todos que prejudicou e começa a compartilhar tudo isso com outros com o mesmo problema".

Sandra destaca, ainda, a importância dos eventos na Capital para trazer visibilidade às ações da Irmandade, e assim, ajudar mais pessoas. "Eles precisam muito de nós. Com isso poderemos divulgar para que mais pessoas encontrem a sobriedade".

RENATO BEZERRAREPÓRTER
 

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