domingo, 24 de fevereiro de 2013


lula e PT
Em artigo no O POVO deste domingo, o sociólogo André Haguette diz que Lula e o PT pareciam se confundir tempos atrás, mas, atualmente, a associação “parece um pouco esdrúxula”. Confira:
Eis que, por ocasião dos 33 anos do PT e dos dez anos no comando da República, Lula e o PT botam os pés na estrada novamente. Tudo, na realidade, não passando do primeiro ato da campanha de reeleição da companheira Dilma. Hoje, todavia, a associação Lula/PT parece um pouco esdrúxula ou, vamos dizer assim menos autêntica ou verdadeira de há 33 anos quando Lula e PT pareciam se confundir. De acordo com muitos analistas de esquerda, ao tomar o poder Lula criou o Lulismo, afastando-se das teses e do programa do PT e levando assim um grande número de petistas históricos a deixarem o partido.
André Singer escreve, em Os Sentidos do Lulismo, “Lula aproveitou a onda de expansão mundial e optou por caminho intermediário ao neoliberalismo da década anterior e ao reformismo forte que fora o programa do PT até as vésperas da campanha de 2002”. Singer evita dizer que o PT da oposição tinha um programa “socialista”, preferindo a expressão “reformismo forte”. Mesmo assim afirma que Lula no governo significou uma mudança de rumo em relação aos caminhos propostos pelo PT na oposição.
Para Tales Ab`Sáber, leitor de André Singer, “Lula apenas confirmou o manejo tradicional brasileiro da vida política, nunca inteiramente expurgada de clientelismo e patrimonialismo desde o longo fim da ditadura…(O governo Lula significou) o fim incondicional da perspectiva de luta de classes do PT, e sua adesão como partido no poder à tradição política imoral e particularista brasileira, (que) foi o primeiro e muito importante movimento político realizado pelo governo Lula, em sua ativa busca de consenso em todo espectro da vida brasileira”. Eis a grande marca do Lulismo em oposição ao PT que nasceu e cresceu numa perspectiva de classe: “A tradição da esquerda de pensar o todo pela perspectiva das partes é abandona… (adquirindo) uma expressão pluriclassista, em um arco que vai do agronegócio, passando pelo grande empresário e pelo sindicalismo, ao MST”, escreve Luiz Werneck Vianna.
Frei Betto, em O Calendário do Poder, já afirmava em 2007: “No primeiro mandato, o medo venceu a esperança. O projeto petista de nação cedeu lugar ao da eleição. O governou Lula optou por privilegiar alianças partidárias que, por vezes, incluíram políticos notoriamente corruptos, de práticas antagônicas aos fundamentos do PT. No calor do processo eleitoral, essas alianças não se pautaram por metas estratégicas capazes de delinear o perfil de um novo país. O balaio de votos pesou mais do que a utopia de construir “um outro Brasil possível”. Utopia que o PT vinha vendendo aos eleitores.
Para José de Souza Martins, “o PT no poder (o Lulismo, portanto,) empenhou-se numa política de conciliação dos contrários, amansando e enquadrando os belicosos, como fez com o MST, os sindicatos e os intelectuais, e seduzindo os poderosos como fez com os partidos verdadeiramente de direita, os banqueiros e os investidores estrangeiros”. Petismo e o Lulismo são um arranjo eleitoreiro como tantos outros, visando o bem de todos, de banqueiros a lúmpen-proletáriado. E, em certa medida, conseguindo.

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