A Polícia Federal realizou ontem busca e apreensão na Câmara dos Deputados, na sede de partidos - PTB e Solidariedade (SD) - e prendeu agentes públicos ligados ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com o objetivo de desarticular suposta organização criminosa formada por políticos, lobistas e funcionários públicos envolvidos na venda de registro sindical.
A ação, batizada de Registro Espúrio, é desdobramento de uma investigação em andamento há cerca de um ano cujos principais alvos são aliados do governo federal como o deputado Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, e o presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força (SP), e o também petebista Wilson Filho (PB). A Força Sindical foi alvo de buscaOutro político na mira da PF é o presidente nacional do PTB e pivô do escândalo do mensalão do PT, Roberto Jefferson. A PF chegou a pedir a prisão do ex-parlamentar, que foi negada pelo ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal. Os envolvidos negam envolvimento em irregularidades.
O registro sindical é emitido pela secretaria de Relações de Trabalho do ministério e, normalmente, o trâmite leva mais de um ano até a concessão. Nos casos investigados pela PF, empresários e interessados no registro pagavam propina para agilizar o processo. O pagamento era feito a lobistas para ser repassado a políticos, segundo a investigação. O PTB e o Solidariedade dividem as indicações dos principais cargos comissionados na pasta. Os investigadores se valeram de interceptações telefônicas, ações controladas e quebras de sigilo fiscal, bancário e telemático para mapear a atuação do suposto grupo criminoso.
O presidente do Sindicato das Pequenas e Micro Empresas de Transporte Rodoviário de Veículos Novos de Goiás (Sintrave-GO), Afonso Rodrigues de Carvalho, foi um dos que denunciaram o esquema. O empresário entregou e fez gravações a pedido da Polícia Federal que revelam a negociação com lobistas para conseguir o registro sindical.
De acordo com a PF, o esquema era organizado em cinco núcleos distintos. Um dos grupos era formado por políticos do Solidariedade e do PTB como Jovair Arantes, Paulinho da Força e Roberto Jefferson. Eles seriam responsáveis, diz a PF, pela indicação e manutenção em cargos estratégicos da Secretaria de Relações do Trabalho do MTE dos servidores que faziam parte do esquema.
A PF tentou prender o secretário executivo do MTE, Leonardo Arantes. Sobrinho do deputado Jovair Arantes, o número dois da pasta está em Londres, na Inglaterra, e por isso não foi encontrado. Rogério Arantes, outro parente de Jovair e funcionário do Incra, também teve prisão solicitada pela PF.
Os outros três núcleos da organização criminosa mapeados pela investigação são o sindical, o captador e financeiro.
Sem acesso
Dois dos três parlamentares investigados estão proibidos de ir ao Ministério do Trabalho ou contatar demais investigados na operação. Seus nomes não foram divulgados
SINDICALISTA DEPUTADO
Paulinho da Força é deputado pelo Solidariedade. Um dos nomes de peso na, chamada, bancada sindical da Câmara Federal.
O DIA RUIM DO “RELATOR”
O goiano Jovair Arantes ganh0u notoriedade ao assumir a relatoria do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara.
O POLÍTICO REINCIDENTE
Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, volta a se envolver com escândalo político. Ele já cumpriu pena antes pelo mensalão
MAIS DETALHES
NÚMEROS DA OPERAÇÃO E MANIFESTAÇÃO OFICIAL
MOBILIZAÇÃO
Ao longo do dia, 320 policiais federais cumpriram 64 mandados de busca e apreensão, oito mandados de prisão preventiva e 15 mandados de prisão temporária no Distrito Federal, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais.
MINISTÉRIO
O Ministério do Trabalho informou, por meio de nota, que está “acompanhando atentamente as ações desenvolvidas pela Polícia Federal” com o propósito de apurar eventuais crimes no âmbito da concessão de registros sindicais. “Apuradas as responsabilidades, o Ministério não se eximirá de aplicar as penalidades previstas em lei”, diz a nota.